“Tornar-se feminista: devir do feminismo: para quem?”
Por Ana Paula Andrade e Líryan Lourdes
Somos mesmo feministas? Tornar-se mulher para tornar-se feminista participa de um ato constante de mudanças e reconstruções, um devir da mulher. Deparamos com um “Ser Mulher”, uma feminilidade e um feminismo construídos e impostos: visões colonialistas, patriarcais e estruturas de controle.
Nós, mulheres, nos construímos à margem de “um outro”. Anuladas! Ao longo de nossas histórias, foram várias lutas e formas de resistência que se estruturaram a partir de estratégias de sobrevivência; assim somos viventes, somos história e estamos em movimento. O que nos faz resistir, viver, sobreviver enquanto mulheres? Seja pelos modus viventes de como querem que sejamos, seja pela necessidade de nos construir… dóceis!
Corpos dóceis são instituídos, a partir do século XVIII, em uma sociedade burguesa e moralista de ideais iluministas e de uma razão eurocentrista. Docilizaram nossos corpos economicamente, socialmente, historicamente, mentalmente, psicologicamente… De forma a não sabermos como ser mais sem ser dóceis de alguma forma, ou a não sabermos como não ser dóceis sem reproduzir o comportamento que nos oprime e condiciona.
Nessa docilização de nossos corpos, de nós, nos fizeram acreditar que não somos capazes e nos fizeram pensar que não podemos – pensar, agir, votar, fabricar, criticar; ser cientistas, filósofas, astronautas, jogadoras de futebol; nos amar. Amar: fetiche do outro! (Da outra?!) Imposição cultural pornográfica! Não sabendo que podemos ser o que quisermos, passamos também a competir. Sem diálogos. Consideramos que uma forma é melhor que outra, que há linhas mais corretas, que algumas são mais válidas. Ser mulher é um exercício de autenticidade? Somos uma cópia de modelagens? Estamos apenas cumprindo o que quiseram que fossemos?
Tornar-se mulher, tornar-se feminista, tornar-se uma representante de um tipo específico de feminismo, hoje, irá requerer um diálogo com “para quem”? Ou, “para quê”? Para quem eu me torno uma mulher, e uma mulher feminista? Para mim? Para um grupo? Para as próximas que virão?
uma amante das artes, se arriscando na poesia. Professora, que discute questões de gênero, formação de professores e currículo. Uma das organizadoras do Colóquio Mulheres da FaE UEMG.
é lésbica, trans, filósofa, demi e não mono que se dedica à pesquisas sobre gêneros e sexualidades em uma perspectiva decolonial. Princesa Nerd nas horas vagas.